A Tênue Linha da Felicidade
9- A Tênue Linha da Felicidade (parte 1)
O ano era mais ou menos o de 1963, em uma cidade pequena, quase esquecida até hoje. E eu tinha dezesseis anos, foi quando me apaixonei pelo filho do dono do posto de gasolina.
Você pode até não achar nada demais nessa informação, mas minha família era pobre, eu tenho 6 irmãos e minha mãe vai morrer em menos de 1 ano, a contar de agora.
Outro erro é achar que estou falando de um conto de fadas, onde a moça pobre fica com o riquinho da cidade... Não, não é bem assim, porque ele também não tinha muito dinheiro, porém qualquer coisa era mais que a gente.
Sua família veio do interior e seu pai era pedreiro, vieram para cidade grande a pedido do padre local, para ajudar a levantar uma paróquia aqui no bairro, e com muito esforço conseguiu comprar o posto.
Aqueles, sem bandeira nenhuma e também sem nenhum tipo de fiscalização. As coisas nos anos 60 eram mais tranquilas, um tanto quanto irresponsáveis também, é verdade!
Acontece que a sua mãe tinha esquecido de onde viera, e achava que seus filhos não mereciam ninguém menos que alguém com "eira e beira" e como ela mesmo dizia, que eu não tinha nenhum dos dois.
Acredito que você já tenha ouvido falar no termo "sem eira nem beira" não?
Bom, eu era a segunda filha mais velha, e havia um irmão mais velho que nós duas também. Os demais eram crianças demais para se lembrar de coisas assim.
Pois bem, eu trabalhava como dama de companhia para uma senhora, cujo marido era médico, então eles sim tinham dinheiro. Muito dinheiro.
Naquela época eu já os ouvia conversando sobre viagens ao velho mundo, hoje conhecido como "Europa". Acho que você agora sabe de onde estou falando. Eu tinha dezesseis, eles tinham, com certeza, mais de cinquenta.
Seus filhos já eram adultos e casados.meu trabalho consistia em enrolar a sua lã enquanto fazia tricô, dobrar as roupas, arrumar a mesa e escutar tudo o que ela tinha para falar.
Eu não era de falar, pois minha mãe me ensinou que não devemos nunca ficar de conversinha com nossos patrões! Mas eu sempre fui muito atenta, e todos os detalhes que eu a via fazendo ficou marcado em minha memória.
Pois bem, aquele rapaz de apenas dezessete anos, também olhou para mim um dia, durante a missa, quando fui comungar e ele era um dos coroinhas. Muito normal na nossa época! Era um orgulho para os pais!
A gente estudava no mesmo colégio e começamos a nos encontrar meio que escondido. Era uma delicia! Sabe aquela sensação de euforia? Pois é!
Contei para minha irmã mais velha, já imaginando que iria levar a maior bronca, pois eu precisava daquele puxão de orelha! Quem sabe assim eu colocasse a cabeça no lugar e tentasse esquecer aquele garoto.
Mas não! Ao invés disso ainda descobri que ela estava saindo com o melhor amigo dele, foi uma perdição! Duas adolescentes com os hormônios afloramos e dois garotos que nos tratavam super bem.
No ano seguinte, ele se formou e se mudou de cidade afim de cursar a universidade, coisa que eu sabia que nunca iria fazer. Me jurou mundos e fundos e eu acreditei, até porque suas cartas chegavam sem atraso, todas as sextas-feiras.
Minha irmã mais velha foi pedida em casamento por aquele rapaz, e lembro como se fosse ontem, de nós duas pulando feito duas doidas, na linha do trem, a caminho de onde nosso pai trabalhava, para levar sua marmita e depois irmos para o trabalho.
A família deste não ligava para nossa condição monetária, que era quase miserável! Uma casa de pau a pique, sem luz e com muita gente dentro dela! Mesmo assim, eu estava exalando felicidade, assim como ela.